Escola também é lugar de tecnologia – Parte 2





Gisele Cordeiro, coordenadora pedagógica do CIEP Doutor Adão Pereira Nunes, posa para foto com seus alunos, que usam computadores e tablets para ensinar aos professores como se inserir no universo online. (Foto: Victor Malta)
Na semana passada, apresentei situações reais para exemplificar que o uso de novas ferramentas tecnológicas em sala de aula tem sido mais tema de debate do que de prática no auxílio ao trabalho pedagógico.
O fato é que uma parcela significativa de nós, educadores, não teve em nossa formação nenhum contato com as novas tecnologias. Aliás, se pararmos pra pensar, o uso maciço de computadores, smartphones, tablets e afins é muito recente, além de muito impactante, em nossa sociedade. A comunicação virtual, assim como todo o universo tecnológico, veio para ficar. Ela é uma marca do mundo pós-moderno e não tem como fugirmos desse fato .
Sendo assim, como lidar com tais inovações? Permitir a entrada desses equipamentos em sala coloca a aula em risco?
Respondo a essas perguntas com outras indagações: por que não aceitar o uso da tecnologia em minha aula? Porque não quero ou porque não sei como utilizá-la? Percebam que as respostas são de naturezas diferentes. Ao assumir que não quero abrir espaços pedagógicos para novas ferramentas, devo também admitir, ainda que intimamente, que não quero sair da minha zona de conforto. Em outras palavras, acredito que minhas aulas já são instigantes e desafiadoras o suficiente para a construção de novos conhecimentos. Porém, se minha resposta está próxima à “porque não sei como utilizar a tecnologia”, a possibilidade para novas aprendizagens já está aberta!
É importante deixar claro que não estão em discussão o som alto do celular e o atender ou fazer chamadas durante os estudos. É evidente que tais atitudes são inapropriadas e desrespeitam qualquer espaço coletivo onde o foco da atenção é um só, da sala de aula às palestras. Entretanto, agir assim não é uma exclusividade dos alunos: durante minhas aulas para professores, já ouvi de toque de chamadas a conversas sussurradas… A lógica é sempre a mesma: trabalhar somente em direção à proibição e ao controle – reguladores externos – compromete o desenvolvimento da autonomia e, no caso específico dos celulares e afins, gera inúmeros casos de tensão. Em sentido oposto, se introduzirmos regularmente no planejamento momentos em que os equipamentos dos alunos sejam utilizados para pesquisas, buscas, jogos e desafios, caminharemos em direção à autorregulação, portanto, à autonomia.
Como solucionei a questão
A fórmula é simples: toda semana, em ao menos uma das minhas aulas, abro espaço para que, individualmente ou em grupo – no caso de nem todos possuírem a ferramenta tecnológica – os alunos acionem seus equipamentos com a finalidade de contribuição pedagógica. Assim, é possível que lancemos questões a serem pesquisadas nos smartphones ou tablets: complementações de informações trabalhadas, verificações de datas e lugares, biografias e obras, desafios matemáticos e jogos de lógica ou até mesmo dicionários e tabuadas. O fato é que, desse modo, o aluno se predispõe muito mais a utilizar seus equipamentos em sala conforme as solicitações e demandas da aula do que somente para enfrentar e/ou desrespeitar à regra pré-estabelecida.
Há a garantia de que não usarão o WhatsApp ou as redes sociais? Claro que não. Porém, tais escolhas oferecem boas oportunidades para que os contratos de sala sejam lembrados e cobrados pelo grupo sem que o aluno que rompeu o elo da confiança se sinta no direito de argumentar em seu próprio favor.
A importância dos combinados
Um dos professores com quem trabalho – e que utiliza as tecnologias em suas aulas – chegou na sala da direção com um celular nas mãos, acompanhado de sua dona, uma aluna de 8º ano. Ele relatou que, ao ouvir o toque do aparelho, perguntou à dona se era uma ligação de alguém da família. A garota respondeu que não e foi orientada para que desligasse. Como o pedido não foi acatado, a situação foi resolvida entre a coordenação e a aluna, que percebeu que havia “pisado na bola”. Afinal, o professor teve inclusive o cuidado de perguntar se seria uma ligação da família, demonstrando, portanto, preocupação caso houvesse realmente a necessidade de atender à ligação. A aluna, numa tomada de consciência, disse inclusive que deixaria o celular em casa porque estava tendo dificuldades em mantê-lo junto de si sem usá-lo fora do momento oportuno.
O que fica para nós não é a certeza de que essa garota (ou qualquer outro aluno) consiga sempre cumprir com os combinados. Mas, sim, a segurança de que nossa intervenção se orienta pela relação de respeito mútuo e possibilita o exercício da reflexão e da autorregulação, caminhando para a autonomia dos alunos, tão desejada por todos nós.
E com você? Já houve casos de enfrentamento ou de boa utilização da tecnologia? Compartilhe conosco nos comentários abaixo.
Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda.Gisele Cordeiro, coordenadora pedagógica do CIEP Doutor Adão Pereira Nunes, posa para foto com seus alunos, que usam computadores e tablets para ensinar aos professores como se inserir no universo online. (Foto: Victor Malta)
Na semana passada, apresentei situações reais para exemplificar que o uso de novas ferramentas tecnológicas em sala de aula tem sido mais tema de debate do que de prática no auxílio ao trabalho pedagógico.
O fato é que uma parcela significativa de nós, educadores, não teve em nossa formação nenhum contato com as novas tecnologias. Aliás, se pararmos pra pensar, o uso maciço de computadores, smartphones, tablets e afins é muito recente, além de muito impactante, em nossa sociedade. A comunicação virtual, assim como todo o universo tecnológico, veio para ficar. Ela é uma marca do mundo pós-moderno e não tem como fugirmos desse fato .
Sendo assim, como lidar com tais inovações? Permitir a entrada desses equipamentos em sala coloca a aula em risco?
Respondo a essas perguntas com outras indagações: por que não aceitar o uso da tecnologia em minha aula? Porque não quero ou porque não sei como utilizá-la? Percebam que as respostas são de naturezas diferentes. Ao assumir que não quero abrir espaços pedagógicos para novas ferramentas, devo também admitir, ainda que intimamente, que não quero sair da minha zona de conforto. Em outras palavras, acredito que minhas aulas já são instigantes e desafiadoras o suficiente para a construção de novos conhecimentos. Porém, se minha resposta está próxima à “porque não sei como utilizar a tecnologia”, a possibilidade para novas aprendizagens já está aberta!
É importante deixar claro que não estão em discussão o som alto do celular e o atender ou fazer chamadas durante os estudos. É evidente que tais atitudes são inapropriadas e desrespeitam qualquer espaço coletivo onde o foco da atenção é um só, da sala de aula às palestras. Entretanto, agir assim não é uma exclusividade dos alunos: durante minhas aulas para professores, já ouvi de toque de chamadas a conversas sussurradas… A lógica é sempre a mesma: trabalhar somente em direção à proibição e ao controle – reguladores externos – compromete o desenvolvimento da autonomia e, no caso específico dos celulares e afins, gera inúmeros casos de tensão. Em sentido oposto, se introduzirmos regularmente no planejamento momentos em que os equipamentos dos alunos sejam utilizados para pesquisas, buscas, jogos e desafios, caminharemos em direção à autorregulação, portanto, à autonomia.
Como solucionei a questão
A fórmula é simples: toda semana, em ao menos uma das minhas aulas, abro espaço para que, individualmente ou em grupo – no caso de nem todos possuírem a ferramenta tecnológica – os alunos acionem seus equipamentos com a finalidade de contribuição pedagógica. Assim, é possível que lancemos questões a serem pesquisadas nos smartphones ou tablets: complementações de informações trabalhadas, verificações de datas e lugares, biografias e obras, desafios matemáticos e jogos de lógica ou até mesmo dicionários e tabuadas. O fato é que, desse modo, o aluno se predispõe muito mais a utilizar seus equipamentos em sala conforme as solicitações e demandas da aula do que somente para enfrentar e/ou desrespeitar à regra pré-estabelecida.
Há a garantia de que não usarão o WhatsApp ou as redes sociais? Claro que não. Porém, tais escolhas oferecem boas oportunidades para que os contratos de sala sejam lembrados e cobrados pelo grupo sem que o aluno que rompeu o elo da confiança se sinta no direito de argumentar em seu próprio favor.
A importância dos combinados
Um dos professores com quem trabalho – e que utiliza as tecnologias em suas aulas – chegou na sala da direção com um celular nas mãos, acompanhado de sua dona, uma aluna de 8º ano. Ele relatou que, ao ouvir o toque do aparelho, perguntou à dona se era uma ligação de alguém da família. A garota respondeu que não e foi orientada para que desligasse. Como o pedido não foi acatado, a situação foi resolvida entre a coordenação e a aluna, que percebeu que havia “pisado na bola”. Afinal, o professor teve inclusive o cuidado de perguntar se seria uma ligação da família, demonstrando, portanto, preocupação caso houvesse realmente a necessidade de atender à ligação. A aluna, numa tomada de consciência, disse inclusive que deixaria o celular em casa porque estava tendo dificuldades em mantê-lo junto de si sem usá-lo fora do momento oportuno.
O que fica para nós não é a certeza de que essa garota (ou qualquer outro aluno) consiga sempre cumprir com os combinados. Mas, sim, a segurança de que nossa intervenção se orienta pela relação de respeito mútuo e possibilita o exercício da reflexão e da autorregulação, caminhando para a autonomia dos alunos, tão desejada por todos nós.
E com você? Já houve casos de enfrentamento ou de boa utilização da tecnologia? 

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